Gestor de comunidades e desenvolvedor de cloud são profissões em alta em 2023

Mercado valoriza cada vez mais soft skills, como inteligência emocional e capacidade de resolver conflitos, dizem consultores

Gestor de comunidades e desenvolvedor de cloud são profissões em alta em 2023

Assim como no fim do ano passado, em 2023 os empresários vão manter o olhar positivo sobre o Brasil e o desempenho da economia, o que deve contibuir ainda mais para a geração de oportunidades de emprego. Essa é a expectativa de especialistas em carreiras e no mercado de trabalho do que esperar para a vida profissional no próximo ano. Eles também dizem que haverá alta demanda por trabalhadores que atuam com redes sociais e computação em nuvem.

"As profissões em T.I. [tecnologia da informação] vão continuar em alta por algum tempo, porque há falta de mão de obra qualificada e, ao mesmo tempo, um aumento de demanda, principalmente em funções-chave, como as de programadores e desenvolvedores", analisa Reynaldo Gama, CEO da HSM, empresa de treinamentos corporativos. 

Para ele, o cenário do emprego em 2023 deve ser parecido com o do ano passado: "O maior desafio vai ser a contratação e a retenção de pessoal qualificado, que é o mais disputado", diz.

A aposta de Isabel Medeiros, diretora de expansão e gente e cultura do grupo Trigo, dono das marcas Spoleto, China in Box, Gendai e Koni, entre outras, é em profissões relacionadas ao digital. "As áreas mais fortes hoje são as de mídias e as de dados e, muitas vezes, elas se relacionam, porque são importantes para o marketing", fala.  

 

Segundo a executiva, os profissionais que têm mais chance de ocupar as melhores vagas são aqueles com capacidade analítica para interpretar os dados das companhias, tanto as informações internas quanto aquelas relacionadas aos comportamentos ou às preferências dos clientes.

 

"As empresas também buscam especialistas em marketing para redes e celular, talentos da área comercial, de gente e gestão, principalmente para trabalhar com inclusão, e de ESG [sigla em inglês para sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa, ou Environmental, Social and Governance]."

"Cada vez mais o digital está presente na nossa vida, então esse movimento do mundo digital, da área de tecnologia, é de mais oportunidades. Mas isso não significa, necessariamente, que todo mundo tem que virar programador. As empresas procuram o digital, a inovação, mas buscam por isso com um olhar mais amplo", alerta Paola Dazzan, gerente da prática de transição de carreira da consultoria em recursos humanos LHH (Lee Hecht Harrison).

Além do marketing digital e da tecnologia, ela cita as carreiras relacionadas à produção de commodities como as que têm potencial para gerar mais empregos em 2023.

Por outro lado, com tendência à diminuição de postos de trabalho estão as profissões baseadas em atividades repetitivas, aquelas funções em que o trabalhador "já pode ser substituído por robôs, por inteligência artificial", ilustra Gama, da HSM, e explica que elas deixam de fazer sentido.

Nesse grupo estão postos operacionais, completa Paola, como caixa de supermercado, operador de máquinas e outros tipos de posições mais comuns em fábricas. "Com a utilização de robôs, já é possível ter mais produtividade, gastar menos tempo e ser mais assertivo nos processos, o que torna o processo mais barato e gera mais lucro, que é o que as empresas buscam", resume.

Gestor de comunidade em redes sociais

No que diz respeito ao trabalho com mídias digitais, Gama, da HSM, aponta o cargo de community manager (gestor de comunidade) como o que tem tendência de maior crescimento e destaque no próximo ano. Esse é o profissional responsável por desenvolver e gerenciar uma comunidade nas redes sociais em torno de um produto ou marca, para criar um ambiente propício para a conexão das pessoas, onde elas se relacionem e interajam.

O trabalho do gestor de comunidade tem importância estratégica para companhias que querem aumentar sua presença digital e atrair clientes via internet. Para desempenhar essa função, o profissional precisa, antes de tudo, gostar de redes sociais, entender bem como elas funcionam e estar antenado o tempo todo, porque tem de ser rápido em perceber oportunidades.

Gerenciar uma marca na internet exige um conjunto de qualidades, como criatividade, empatia e inventividade. A qualidade do trabalho vai depender, ainda, da capacidade analítica e da sensibilidade necessárias para entender o que os seguidores desejam e transformar informações em ações úteis para o fortalecimento da marca.

Para divulgar os produtos e criar relacionamento com os clientes, o principal papel do manager é produzir conteúdo atrativo e de qualidade, não apenas para as redes sociais, mas também para outros canais digitais, como o blog da companhia. Em todos eles, é preciso descobrir o perfil do público e decidir os dias e horários mais adequados para publicar o conteúdo. Além disso, o gestor precisa monitorar as notícias e publicações do setor de atuação da empresa, para identificar oportunidades e ameaças e detectar conteúdos relevantes.

Ainda na área de mídias e marketing digital, outras promessas de boas oportunidades de emprego para o próximo ano são funções como analista, coordenador e gerente de marketing digital, design gráfico e CRM-CX. Esse último é o profissional responsável pela experiência do cliente ou CX (Customer Experience), ou seja, é aquele que cuida da imagem que a empresa passa para os clientes do primeiro ao último contato.

Já CRM (Customer Relationship Management) é o nome de um software que gerencia o relacionamento com o cliente, uma ferramenta informatizada que ajuda o profissional de CX a usar dados e informações dos clientes de forma estratégica, a compreender objetivos, desejos, dificuldades e hábitos para otimizar os processos de desenvolvimento de produtos, marketing, atendimento e vendas.

Tecnologia: desenvolvedor de soluções para nuvem

Se a aposta para 2023 dos especialistas consultados pela reportagem do R7 como a profissão em alta no marketing é o community manager, em tecnologia, quem fica na frente é o cloud developer (desenvolvedor de cloud ou nuvem), seguido bem de perto pelo data scientist (cientista de dados).

A demanda também deve ser grande para profissionais de infraestrutura, de segurança da informação, arquiteto de soluções (o que pensa no desenvolvimento de sites, softwares, sistemas e outros produtos e mapeia riscos conforme as necessidades do negócio) e tech lead (líder técnico de T.I.).

"O desenvolvimento para nuvem e dados é um nicho global", fala Gama. "Toda empresa tem um negócio ‘escondido’, relacionado a dados, e precisa de uma gestão segura e eficiente. O desafio é descobrir como fazer esses dados gerarem valor para a empresa", afirma. 

 

Ele conta que, atualmente, profissionais brasileiros trabalham para empresas de outros países: "Eles recebem propostas em euro, em dólar, para atuar em companhias portuguesas e indianas, e isso movimenta o mercado, aumenta a competitividade".

O cloud developer desenvolve ferramentas para o uso da computação em nuvem (cloud computing, em inglês), um conjunto de recursos disponíveis remotamente, a partir da conexão via internet, sem o uso da capacidade de memória do dispositivo pessoal (computador, tablet ou smartphone). Esse profissional cria aplicativos e soluções de armazenamento de dados na nuvem, além de gerenciar as sessões dos usuários, entre outras coisas.

Já o cientista de dados é o profissional responsável por reunir, interpretar, resolver problemas e comunicar toda informação relevante que pode ser extraída dos dados que as empresas armazenam, tanto de pessoas, com funcionários, fornecedores e clientes, quanto de processos.

Finanças

Apesar do destaque no mercado de trabalho, não é só o marketing e a tecnologia da informação que devem ser reponsáveis pela maior parte das vagas de emprego de 2023. O mercado financeiro também está em alta, e as áreas de private banking e ESG são as mais promissoras. Entre os profissionais mais buscados, desde este ano estão os que atuam em compliance, M&A, crédito corporativo e ESG.

Compliance é a área voltada às práticas e aos procedimentos que garantem que as empresas e seus colaboradores sigam as leis do país, além das regulamentações e normas internas. Tem o objetivo de proteger a companhia de possíveis impactos negativos causados pelo descumprimento de regras e diretrizes.

M&A (Mergers and Acquisitions), que pode ser traduzido para o português como fusões e aquisições, é uma área das finanças corporativas que visa a tornar as organizações mais competitivas, por meio da manutenção ou do aumento dos padrões de crescimento. Trata-se da avaliação das estratégias e oportunidades de compra, visando a vantagens como a redução de custos, crescimento do mercado de atuação, expansão do portfólio de produtos e serviços oferecidos e ganho de eficiência e recursos.

Hard skills X soft skills

Gama diz que, depois da experiência do confinamento, com a pandemia da Covid-19, o mercado de trabalho vem passando por grandes transformações. "Profissionais mais experientes começaram a questionar o formato do emprego formal; muitos viram que o trabalho presencial não faz mais sentido, depois de terem trabalhado o tempo inteiro na modalidade remota no primeiro ano da pandemia", conta.

Ele fala que, com as empresas que optaram pelo trabalho híbrido, com a exigência de presença no escritório três vezes por semana, diversas pessoas estão querendo empreender. "Muita gente se mudou para o interior, e o presencial não é mais compatível. Esse profissional prefere ter um horário de trabalho mais flexível", comenta.

Paola, da LHH, afirma que a pandemia acelerou um processo que aconteceria de qualquer forma. "Empresas mais conservadoras tinham dificuldade com o trabalho remoto e, na verdade, com a pandemia, elas aprenderam que não precisa estar fisicamente perto para gerenciar, que existem outras formas de orientar", explica. "Isso obrigou gestores a desenvolver outras habilidades e competências, o que, para muitos, foi um grande desafio." 

Por isso, principalmente para os cargos executivos, as companhias passaram a buscar competências mais humanizadas e menos técnicas, como criatividade, colaboração, inteligência emocional, resolução de problemas, diz Gama. "Essas habilidades são importantes e mais difíceis de encontrar, porque, para as 'hard skills', é totalmente possível fazer cursos e dar treinamentos", explica o executivo.

Na avaliação de Isabel, do grupo Trigo, as empresas entenderam que é necessário ter equilíbrio. "Depois do extremo vivido na pandemia, há um cuidado maior com o emocional, com a saúde mental dos funcionários. Todos precisam disso para trazer bons resultados", fala.

Para ela, também é muito forte para 2023 a tendência de aumento das áreas de governança, social, ambiental e de diversidade. "As empresas trabalham fortemente com metas de inclusão, porque a vida profissional das pessoas ficou muito maior. A organização que não for inclusiva vai perder espaço."

Para os profissionais, além do equilíbrio emocional, a flexibilidade vai ser fundamental. "Posso citar também competências como resiliência, capacidade de adaptação, estar aberto a mudanças, ter curiosidade, vontade de conhecer as coisas, capacidade de ficar antenado. O mundo está mudando muito rápido, os processos mudam o tempo todo, e cada um deve buscar o que tem de melhor a oferecer. O lado comportamental vai valer mais que o técnico, essa é a grande mudança", finaliza.

 

Fonte: https://noticias.r7.com/economia/gestor-de-comunidades-e-desenvolvedor-de-cloud-sao-profissoes-em-alta-em-2023-05012023