Ao festejar Alcione na 30ª edição, Prêmio da Música Brasileira reforça a presença feminina na celebração
É preciso homenagear mais as compositoras, muito pouco lembradas na história da premiação criada em 1987 e retomada em 2022, após dois anos de hiato por conta da pandemia.
♪ ANÁLISE – A celebração da obra de Alcione na 30ª edição do Prêmio da Música Brasileira – prevista para acontecer em abril de 2023, na cidade do Rio de Janeiro (RJ) – é importante sob o prisma musical e também adquire relevância dentro do campo social.
Do ponto de vista musical, a escolha se justifica plenamente pelo fato de a cantora maranhense ser uma das maiores vozes do Brasil e de estar festejando 50 anos de carreira fonográfica em 2022 com comemorações que serão coroadas justamente com a homenagem recebida na premiação criada pelo empresário José Maurício Machline em 1987.
Em âmbito social, a escolha de Alcione tem peso porque reforça a presença feminina na história do Prêmio da Música Brasileira, diminuindo a diferença entre homenagens a homens e mulheres.
Já contando com a edição que irá celebrar Alcione, cantoras e/ou compositoras foram homenageadas em 10 das 30 edições do PMB. Já os homens foram celebrados em 19 das 30 edições, sendo que uma edição, a de 2014, homenageou o samba, gênero musical ao qual Alcione é associada.
Ou seja, ainda falta muito para que haja real equiparação entre homens e mulheres nas homenagens do Prêmio da Música Brasileira e para que também haja visibilidade entre mulheres trans, presentes com mais força no universo pop nacional nos últimos cinco anos após décadas de invisibilidade social e musical.
E cabe ressaltar que, das 10 mulheres homenageadas na história da premiação, somente três – Maysa (1936 – 1977), Dona Ivone Lara (1922 – 2018) e Rita Lee – são reconhecidas e percebidas como compositoras, sendo que as demais são identificadas primordialmente como cantoras, ainda que algumas dessas cantoras (como Gal Costa, Maria Bethânia e a própria Alcione) tenham feito músicas eventuais ao longo das carreiras.
Em bom português: é preciso homenagear compositoras nas futuras edições! Adriana Calcanhotto, Joyce Moreno, Marina Lima e Vanessa da Mata – para citar somente quatro exemplos de cantoras que são também essencialmente compositoras – construíram obras de assinaturas fundamentais na música brasileira e não costumam ser lembradas em premiações por esse viés autoral.
Como o Prêmio da Música Brasileira tem se mostrado atento às mudanças do mundo e do mercado musical (como sinalizaram as já anunciadas mudanças de nomenclaturas de algumas categorias), cabe atentar também para a valorização da mulher como compositora e instrumentista, e não somente como cantora.
No mais, viva Alcione, cantora que faz jus a todos os prêmios e celebrações!
Logo do Prêmio da Música Brasileira — Foto: Reprodução / Facebook Prêmio da Música Brasileira
♪ Eis, em ordem cronológica, os artistas homenageados nas 30 edições do Prêmio da Música Brasileira:
1ª edição – 1988 – Vinicius de Moraes (1913 – 1980)
2ª edição – 1989 – Dorival Caymmi (1914 – 2008)
3ª edição – 1990 – Maysa (1936 – 1977)
4ª edição – 1991 – Elizeth Cardoso (1920 – 1990)
5ª edição – 1992 – Luiz Gonzaga (1912 – 1989)
6ª edição – 1993 – Angela Maria (1929 – 2018) e Cauby Peixoto (1931 – 2016)
7ª edição – 1994 – Gilberto Gil
8ª edição – 1995 – Elis Regina (1945 – 1982)
9ª edição – 1996 – Milton Nascimento
10ª edição – 1997 – Rita Lee
11ª edição – 1998 – Jackson do Pandeiro (1919 – 1982)
12ª edição – 1999 – Não houve homenageado
13ª edição – 2002 – Gal Costa
14ª edição – 2003 – Ary Barroso (1903 – 1964)
15ª edição – 2004 – Lulu Santos
16ª edição –2005 – Baden Powell (1937 – 2000)
17ª edição – 2006 – Jair Rodrigues (1939 – 2014)
18ª edição – 2007 – Zé Kétti (1921 – 1999)
19ª edição – 2008 – Dominguinhos (1941 – 2013)
20ª edição – 2009 – Clara Nunes (1942 – 1983)
21ª edição – 2010 – Dona Ivone Lara (1922 – 2018)
22ª edição – 2011 – Noel Rosa (1910 – 1937)
23ª edição –2012 – João Bosco
24ª edição – 2013 – Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994)
25ª edição – 2014 – O samba
26ª edição – 2015 – Maria Bethânia
27ª edição –2016 – Gonzaguinha (1945 – 1991)
28ª edição – 2017 – Ney Matogrosso
29ª edição – 2018 – Luiz Melodia (1951 – 2017)
30ª edição – 2023 – Alcione
Fonte: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/10/27/ao-festejar-alcione-na-30a-edicao-premio-da-musica-brasileira-reforca-a-presenca-feminina-na-celebracao.ghtml