Carreira em TI: por onde começar a buscar o primeiro emprego em tecnologia
Há oportunidades para pessoas com cursos técnicos, alunos do ensino superior e recém-formados. Veja as áreas mais aquecidas e salários iniciais.
Quem busca o primeiro emprego deve olhar com carinho para a tecnologia da informação, também chamada de TI. Impulsionado pela digitalização das empresas — que foi acelerada com a pandemia — o setor tem demanda alta e falta mão de obra.
Com isso, as empresas têm recrutado colaboradores com pouca experiência. O número de empresas de TI que buscaram profissionais juniores, com no máximo dois anos de carreira, crescimento de mais de 170% no 1º semestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo levantamento da plataforma de recrutamento GeekHunter.
Há oportunidades para pessoas com cursos técnicos, para quem está fazendo faculdade e para recém-formados.
Áreas mais aquecidas para iniciantes
Há vagas nas mais diversas atividades relacionadas ao setor de TI. Para quem está começando, as apostas mais indicadas são as seguintes (os salários iniciais são de acordo com o Guia Salarial de 2022 da consultoria Robert Half).
Infraestrutura de TI
O que faz: nesse campo, os profissionais são responsáveis por manter a estrutura de tecnologia de empresas, órgãos públicos e outras organizações. Podem atuar com manutenção e gestão de hardwares (computadores e outros gadgets), redes e softwares.
Salário inicial: R$ 3.850, para analista de infraestrutura júnior.
Requisitos: não é obrigatório ter graduação para atuar na área, mas é fundamental comprovar o conhecimento nas ferramentas mais populares (bancos de dados, serviços em nuvem, etc.) por meio de cursos e certificações. Conhecimentos em linguagens de programação (Python e Java, por exemplo), que podem ser obtidos em cursos livres, também são indicados.
Trabalhar com infraestrutura é uma boa forma de começar a carreira na área de TI — Foto: Brett Sayles/Pexels
Desenvolvimento de software
O que faz: outra área altamente demandada e que, basicamente, é responsável pela criação de todas as ferramentas que usamos em computadores e na internet é a de desenvolvedores de software. Os profissionais do segmento são comumente chamados de "devs".
Por ser um campo bastante amplo, os interessados podem seguir diferentes caminhos: front-end, back-end ou mobile. O front-end trabalha com a parte que interage com os usuários – ou seja, tudo o que é visual em um aplicativo, por exemplo. Já um back-end é o oposto: atua na parte que o usuário não vê do programa, como o banco de dados de produtos de uma loja online. Há ainda a opção de trabalhar especificamente com programas voltados para celulares como desenvolvedor mobile.
Desenvolvedores de software estão entre os profissionais mais requisitados na TI — Foto: ThisIsEngineering/Pexels
Salário inicial: R$ 4.800 (back-end júnior) a R$ 5.500 (front-end e mobile júnior).
Requisitos: a formação mais comum são cursos superiores de ciências da computação ou análise de sistemas. Apesar de recomendada, a graduação não é obrigatória. Quem não fez faculdade pode buscar cursos de lógica de programação e aprender as principais linguagens e metodologias disponíveis para cada especialidade.
Ciência de dados
O que faz: cientista de dados é uma das novas carreiras que surgiram com a chamada transformação digital – e por isso tem uma demanda alta. O número de vagas na área cresceu quase 500% no 1º semestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
É bom entender que há diferenças entre as funções. Cientista de dados é quem trabalha para transformar estes dados em modelos de aprendizagem de máquinas ou para criação de modelos estatísticos (estatística, Python, R, Machine Learning).
O analista de dados transforma o os dados em informação, em formatos de relatórios e dashboards. Ele também atua na limpeza e no tratamento de dados e pode precisar utilizar linguagens de programação como SQL e Python, planilhas e bancos de dados.
Tem ainda o engenheiro de dados, que foca ainda mais em limpeza e tratamento da informação.
Salário inicial: R$ 4.585, com média salarial de R$ 6.144, segundo a ferramenta de empregos Vagas.com. No guia salarial da Robert Half, um analista júnior da área de inteligência de negócios recebe um salário inicial de R$ 5.600.
Requisitos: a graduação mais comum nessa área é em ciências da computação ou, mais recentemente, em cursos superiores específicos de ciência de dados. Quem optar por um caminho mais curto, pode fazer uma especialização ou um curso livre na área. No entanto, as fontes ouvidas pelo g1 recomendam a faculdade.
Segurança da informação
O que faz: evitar que hackers tenham acesso a dados de empresas e organizações é uma das principais atribuições. Recentemente, várias grandes companhias foram alvos de ataques que chegaram a deixar seus serviços fora do ar – causando prejuízos milionários e afetando consumidores.
Salário inicial: R$ 5.300 para analista de segurança júnior.
Requisitos: a área não tem demanda obrigatória por uma graduação, mas é necessário ter conhecimentos de linguagens de programação, bancos de dados e de regras e protocolos de segurança, como o ISO 27001.
Uma das áreas mais aquecidas da TI é a de segurança da informação — Foto: Tima Miroshnichenko/Pexels
Onde buscar vagas
Siga empresas onde gostaria de trabalhar: muitas companhias anunciam suas vagas por meio de redes sociais ou perfis em plataformas de recrutamento. Esteja de olho nas marcas que você admira.
Amplie o olhar: não fique restrito a empresas de TI. Há alguns anos era óbvio que um desenvolvedor de software teria como principais alvos empresas como IBM, Google, TOTVS, Microsoft e outras marcas "tradicionais" de TI. Mas hoje esse mesmo profissional é buscado por empresas e startups de varejo (Magazine Luiza, Casas Bahia), saúde (Sami, Alice, Dasa), pagamentos (AME, Neon, PicPay), finanças (Itaú, Bradesco, Santander, Nubank, C6bank, Empiricus), fabricantes de alimentos e bebidas (Ambev), entre várias outras.
Empresas de recrutamento: "A cada semana surgem mais organizações se oferecendo para formar novos profissionais, com remuneração ao longo do programa ou não", explica Denise Asnis, cofundadora da plataforma de seleção online Taqe. Vale ficar de olho em serviços semelhantes, como Gupy e Connekt, todos gratuitos para os usuários.
Em português ou inglês: multinacionais podem anunciar vagas no Brasil usando nomes de cargos em inglês (ex: data analyst/analista de dados). Esteja atendo aos dois casos.
Como criar projetos e portfólios para se destacar
Um currículo sem experiências anteriores não significa que o candidato não conhece nada da prática. Profissionais sem graduação completa ou que venham de um curso técnico devem investir em formas de demonstrar seus conhecimentos de outras maneiras.
"Isso é um grande diferencial para quem vai se apresentar em uma entrevista, principalmente para programas portas de entrada, de estágio, aprendiz ou até programas de trainee", diz Rafael Pinheiro, diretor da Companhia de Estágios.
É possível criar projetos e encontrar conteúdo para eles em comunidades e sites como:
Github: uma espécie de rede social para programadores, a plataforma pertence à Microsoft e é gratuita. Ela permite que programadores, utilitários ou qualquer usuário cadastrado contribua em projetos privados e/ou Open Source (código aberto ao público) de qualquer lugar do mundo.
Google Developers: site de desenvolvimento de software, interfaces de programação de aplicativos (APIs) e recursos técnicos. Conta ainda com documentação sobre o uso de ferramentas, grupos de discussão e blogs.
Existem ainda comunidades para mulheres em programação, como PyLadies (devs e programadoras), R-Ladies (devs) e PrograMaria (programação).
Kaggle: subsidiária do Google, é uma ampla comunidade de ciência de dados e machine learning. Para começar, vale pesquisar quais bancos de dados da plataforma atendem a área que você mira (ex: Brazilian E-Commerce Public Dataset). Procure também dicas sobre exploração de dados com scripts do Kaggle. Também dá para participar de fóruns e, quando estiver mais experiente, entrar em competições com gente do mundo todo, além de fazer cursos gratuitos.
Data sets públicos: para quem está voltado para ciência de dados, são plataformas que disponibilizam um conjunto de dados que podem ser usados para treinar as habilidades de raspagem, criar um portfólio de análises, gráficos, etc. Exemplos: Portal Brasileiro de Dados Abertos, Brasil.io, Google Public Data Explorer, World Bank Open Data).
Dashboards: depois de explorar os bancos de dados, você pode criar um relatório dinâmico para mostrar sua análise, usando programas de visualização gratuitas como Google Data Studio, Tableau Public, entre outras.
Discord: a rede social que concorre com o Skype possui diversas comunidades sobre desenvolvimento de games, mas é bastante frequentado por profissionais de várias áreas de TI para trocas de dicas sobre uso de ferramentas, desenvolvimento de carreira, etc.
Medium: plataforma mais voltada a textos, se tornou um lugar para se montar um portfólio: dá pra colocar gráficos, informações sobre projetos que estejam sendo desenvolvidos, etc.
Seja onde você escolher criar seus projetos e trocar ideias sobre ele, aproveite para incluir os links gerados por essas plataformas em seu perfil no LinkedIn, na área de 'Em destaque'. Além disso, ali dá para colocar links de certificados de cursos, entre outros pontos que podem mostrar o seu conhecimento.
Ainda sobre entrevista de emprego, é importante estudar a empresa que está abrindo vagas: o que ela faz, como faz, onde pretende chegar, quais são as tecnologias que usa... "Isso vai dar muito embasamento para responder a perguntas como 'por que você quer vir trabalhar na empresa?' ou 'como você pode colaborar com a empresa?'", aconselha Rafael Pinheiro.
Cursos técnicos que oferecem emprego
Alguns cursos podem levar diretamente ao mercado de trabalho. Silas Medeiros, de 21 anos, tem a expectativa de conseguir um emprego na área de programação depois que finalizar o curso de desenvolvimento de software. Ele é aluno de um programa da escola Digital House, que tem patrocínio das empresas Mercado Livre e Globant.
"O curso foi desenvolvido para preparar futuros profissionais para o mercado de trabalho. Mas, com a demanda tão alta, já existem alguns colegas de sala que trabalham para o Mercado Livre e a Globant", conta Medeiros.
A Digital House não oferece mais bolsas para esse curso, mas é possível tirar a certificação com uma mensalidade de R$ 361. A duração da certificação é de 2 anos, com dedicação de, pelo menos, 25 horas por semana.
A Let's Code é outra escola de programação que oferece um formato semelhante. A edtech faz parcerias com grandes empresas (Santander, Magazine Luiza, iFood e outras) para recrutar e treinar futuros profissionais.
Os alunos selecionados passam por treinamentos que vão de quatro a doze meses e, dependendo da empresa parceira, têm a contratação garantida no fim desse período. Para encontrar oportunidades de bolsas e cursos na área, a dica de especialistas é ficar de olho nas redes sociais de empresas e escolas.
Investir ou não em faculdade?
É fato que nem todas as áreas de TI requerem diploma universitário para iniciantes. "Vejo cada vez menos a exigência de graduação para novos talentos", diz a diretora de cultura e pessoas da Zup, Joceline Abe.
A companhia recruta colaboradores exclusivamente por meio de postagens nas redes sociais LinkedIn, Instagram e Facebook e usa essa mão de obra em projetos internos, para que eles ganhem proximidade com a área de tecnologia.
Pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação da UFMG — Foto: Divulgação / DCC
Em 2021, a Zup contratou cerca de 400 profissionais em início de carreira. O perfil era, principalmente, de recém-formados em cursos superiores e alunos de cursos técnicos. Essas formações não necessariamente eram relacionadas à tecnologia.
"(Não ter curso superior) não é algo que elimina. Cursos técnicos, pessoas que estão fazendo transição de carreira, mas têm certificações bacanas, também são alvo do nosso programa de estágio", diz Gilberto Pimentel, gerente de gente e gestão da Tempest, especializada em segurança da informação.
Mas nem todos os especialistas concordam que a graduação na área não seja uma prioridade.
“A faculdade dá uma base maior para o desenvolvimento e para a empregabilidade no futuro. O profissional vai ter maior sustentabilidade no médio e longo prazo se investir também na educação acadêmica”, argumenta Caio Arnaes, diretor da consultoria Robert Half.
As universidades são um caminho tradicional para programas de estágio e trainee. Algumas instituições de ensino têm parcerias para promover processos seletivos e podem manter estudantes atualizados sobre as oportunidades no mercado.
"A parceria existe para que as vagas sejam divulgadas e (as empresas) cheguem até mais alunos que buscam oportunidades no mercado de trabalho", diz Rafael Pinheiro, da Companhia de Estágios.
"As empresas cada vez mais escolhem as pessoas pelo propósito e pelo sentido que elas dão para a carreira. Então, o universitário recém-formado deve fazer esta reflexão (ao buscar uma vaga): quais são os grandes temas que fazem sentido para mim? Eu quero uma empresa mais inovadora? Quero um perfil mais empreendedor e startup? Quero uma estrutura já mais construída?", ensina Luis Abdalla, CEO da Seja Trainee.
Fonte: https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2022/05/07/carreira-em-ti-por-onde-comecar-a-buscar-o-primeiro-emprego-em-tecnologia.ghtml