Possível transmissão entre humanos, nova variante do vírus da gripe identificada na China levanta alerta

Uma nova variante do vírus da gripe, identificada na China, tem despertado preocupação entre cientistas por apresentar sinais de adaptação que podem permitir sua transmissão entre pessoas. O estudo, publicado na revista Emerging Microbes & Infections, aponta que o vírus influenza D (IDV) — até então restrito a animais — pode já estar circulando silenciosamente entre humanos.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Veterinária de Changchun, liderados por Hongbo Bao, analisaram uma cepa isolada de bovinos do nordeste da China em 2023, chamada D/HY11. Em experimentos de laboratório, o vírus demonstrou capacidade de se espalhar pelo ar entre animais e se replicar em células das vias respiratórias humanas, um indício de que está se tornando mais adaptado a hospedeiros humanos.
Vírus com histórico em animais amplia alcance
Descoberto em 2011 em suínos com sintomas gripais nos Estados Unidos, o influenza D tornou-se comum em rebanhos bovinos e já foi identificado em diferentes regiões do mundo — incluindo América do Sul, Europa, Ásia e África. Além do gado, o vírus também tem sido detectado em cabras, ovelhas, cavalos, camelos e cães.
De acordo com os cientistas chineses, a cepa D/HY11 apresenta alta capacidade de infecção em mamíferos e tropismo respiratório, ou seja, consegue se adaptar às células das vias aéreas de várias espécies. Nos testes, o vírus se multiplicou de forma eficiente em células de cães, humanos, vacas e porcos.
Em experimentos com furões, espécie frequentemente usada em estudos sobre gripe humana, o D/HY11 conseguiu se transmitir pelo ar, sem necessidade de contato direto entre os animais. Esse comportamento é considerado um forte indicativo de que o vírus pode, no futuro, cruzar a barreira entre animais e humanos.
Alta exposição na população chinesa
O estudo também analisou amostras de sangue de 612 voluntários do nordeste da China, coletadas entre 2020 e 2024. Os resultados mostraram que 73% da população geral e 96% das pessoas com sintomas respiratórios apresentaram anticorpos contra o vírus — o que sugere alta taxa de exposição.
Para os pesquisadores, esses dados indicam que o influenza D pode estar circulando de forma silenciosa há alguns anos, possivelmente com infecções leves ou assintomáticas que dificultam a detecção. Apesar dos indícios, a transmissão direta entre humanos ainda não foi confirmada.
Os autores do estudo alertam que nenhum país realiza testes de rotina para o influenza D, o que dificulta o monitoramento global da doença. Eles defendem a criação de sistemas de vigilância e novos estudos para avaliar o potencial de risco à saúde pública.
Resistência a antivirais preocupa
Outro ponto de alerta do estudo é a resistência do vírus aos medicamentos antivirais usados contra a gripe comum. A cepa D/HY11 se mostrou resistente à maioria deles, embora tenha respondido melhor a fármacos que agem sobre a polimerase viral, enzima responsável pela replicação do vírus.
Os cientistas também observaram que a polimerase dessa nova cepa apresenta atividade mais intensa do que as versões anteriores, o que pode favorecer sua disseminação entre mamíferos.
Embora não haja motivo para pânico, os pesquisadores reforçam que o influenza D está evoluindo rapidamente e merece atenção das autoridades de saúde. A combinação de alta exposição populacional, capacidade de adaptação e resistência a antivirais faz do vírus um potencial risco emergente que precisa ser monitorado de perto.
Com informações do SBT News